Importância dos cuidados com a embreagem dos tratores



Um dos componentes que mais apresentam problemas nos tratores agrícolas é a embreagem. Mas a maior parte destes problemas é causada por mau uso do sistema, falta de informações dos operadores e falta de manutenção adequada.

Adquirir um trator é uma tarefa difícil. Dentre as várias marcas, os modelos e as versões, o produtor rural precisa pesquisar muito para fazer o melhor investimento. Adquirido o trator, todo cuidado deve ser dispensado ao mesmo para que produza o que deve e dure o que promete. No meio rural é comum encontrar tratores relativamente novos muito desgastados e tratores com bastante idade mas bem conservados.

Um dos componentes com maior incidência de problemas nos tratores agroflorestais é a embreagem. Responsável pela transferência do movimento do motor ao câmbio e à TDP (Tomada de Potência), é o componente que muitas vezes mais sofre com o mau uso e com a falta de cuidados.

No meio rural é comum a queixa de proprietários com relação ao desgaste prematuro de componentes das embreagens. Nota-se também que certos operadores, mais cuidadosos ou conhecedores do sistema de embreagem e suas limitações, tiram mais proveito das mesmas e prolongam, em muito, a vida útil das mesmas. Outros, menos conhecedores, sacrificam as embreagens e estas não duram o que deveriam e os gastos com manutenções corretivas aumentam, gerando perdas de rendimento e paradas prematuras do trator.

 

RECOMENDAÇÕES
Como ex-operador de tratores, hoje professor de máquinas agrícolas e instrutor de operadores de tratores, faço sempre algumas recomendações simples que podem preservar em muito a vida útil das embreagens, algumas destas recomendações são conhecidas por muitos operadores, mas desprezadas no dia a dia. É preciso uma mudança de mentalidade e o abandono de certos “vícios” profissionais que foram aprendidos erroneamente ou adquiridos ao longo do trabalho. Além disso, os proprietários, gerentes e responsáveis pela frota precisam orientar e cobrar atitudes corretas de seus operadores.

As recomendações para bem utilizar a embreagem de um trator são simples, mas devem ser seguidas à risca para evitar danos e estender ao máximo a vida útil do componente.

 

PÉ SUAVE
Ao sair com o trator sempre se deve tirar o pé do pedal da embreagem de forma suave, não bruscamente. Assim, o movimento do motor será passado ao câmbio também de forma suave, sem “trancos”, evitando danos ao câmbio, eixos, rolamentos e também à própria embreagem. Parece uma recomendação banal, mas muito se vê, no meio rural, operadores que, ao sair com o trator, a dianteira do mesmo quase sai do chão.

 

ROTAÇÃO CORRETA
Saia com o trator sempre numa rotação do motor menor que a rotação de trabalho. Esta dica complementa a primeira. Os operadores têm o hábito de primeiro, com o trator parado, antes de iniciar o trabalho, aumentar a rotação até a de trabalho, normalmente por volta de 1.800rpm, para depois soltar o pé da embreagem. Desta forma, com rotação elevada do motor, a fricção entre volante motor, disco e platô é muito elevada, havendo aumento de temperatura e desgaste prematuro dos componentes da embreagem, principalmente do disco. Uma das características dos motores de tratores agrícolas é o alto torque em baixa rotação, ou seja, o torque máximo de um motor de trator de média potência se dá por volta de 1.400rpm, assim é até melhor para o trator “arrancar” com uma rotação do motor próxima da rotação que proporcione torque máximo. À medida que a rotação aumenta, a potência também aumenta, mas o torque diminui. Uma ressalva deve ser feita no caso desta recomendação: é quando o trabalho com o trator é com implemento, que necessita de determinada rotação no motor para acionar bomba de pulverizadores, compressores de semeadoras pneumáticas ou distribuidoras de fertilizantes e corretivos. Neste caso, para uma perfeita aplicação, uniformidade e funcionamento dos implementos há necessidade da rotação de trabalho desde o início da atividade na linha ou rua de serviço. Aqui é preciso ponderar entre a aplicação ou o trabalho perfeito desde os primeiros centímetros da área ou a preservação de componentes da embreagem, no caso de iniciar o trabalho dos citados implementos com rotação mais baixa que a de trabalho, apenas poucos metros, ou, às vezes, nem um metro ficaria imperfeito ou irregular.

 

NÃO É DESCANSO DE PÉ
Uma das recomendações mais conhecidas dos operadores provavelmente é a de não manter o pé apoiado sobre o pedal da embreagem durante o trabalho. Esta recomendação deve ser levada a sério, pois, por hábito ou cansaço na perna esquerda, que muitas vezes tem que ficar numa posição só, o operador acaba colocando o pé sobre o pedal da embreagem. Tal hábito pode, dependendo da pressão que o pé está imprimindo no pedal, causar o recuo do platô, por menor que seja, provocando um deslizamento do disco, o aquecimento do conjunto e, consequentemente, mais desgaste. Em tratores que possuem folga no pedal, provoca o contato do rolamento de desengate (colar) com os “gafanhotos”, forçando o movimento do colar sem necessidade e, também, neste caso o desgaste pelos motivos explicados anteriormente.

 

CUIDADOS NAS MANOBRAS
Fazer a manobra sempre numa rotação no motor menor que a rotação de trabalho é outro ponto extremamente delicado e não observado pelos operadores. Dificilmente um operador diminui a rotação do motor para fazer a manobra no final do sulco, linha ou rua de serviço, gerando grande atrito entre volante, disco e platô e, consequentemente, muito desgaste. O simples fato de, no final do sulco, ou rua de trabalho, diminuir um pouco a rotação do motor e fazer a manobra, já preservaria em muito a vida útil da embreagem e isto é apenas uma questão de hábito. Esta recomendação é importante também visando à segurança, pois manobras, em alta rotação e velocidade, principalmente em terrenos inclinados, são mais propensas a terminarem em acidentes.

Os responsáveis pela mecanização da empresa, seja o gerente ou o proprietário, devem observar cada operador, corrigir individualmente as irregularidades e proporcionar treinamento coletivo por meio de órgãos especializados, como Senar, cooperativas, sindicatos e outros. É interessante também elaborar uma planilha associando cada operador a problemas recorrentes que acontecem quase sempre com o mesmo operador e chamá-lo para orientação.

 

Fonte: Revista Cultivar


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